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DE GABRIEL CALDERÓN . DIREÇÃO RENATO TURNES . COM  ALVARO GUARNIERI . LARA MATOS . MALCON BAUER . MILENA MORAES . RAFAEL ORSI DE MELO . THAÍS PUTTI . WMARCÃO 

BRASIL - URUGUAI

 

Em 2008, a Cia La Vaca deu início à relação com o novo teatro produzido no Uruguai através da montagem de Mi Muñequita, também de autoria de Gabriel Calderón e direção de Renato Turnes. Esse espetáculo de sucesso - conta com duas circulações estaduais e uma turnê nacional no curriculum, além de uma curta temporada em Montevidéu - abriu um novo universo de investigação e produção, resultado do diálogo criativo entre os artistas catarinenses e uruguaios.

 

Grande parte da equipe criativa de UZ trabalhou em Mi Muñequita, o que representa a continuidade do intercâmbio criativo e permite ao grupo catarinense o desenvolvimento de uma linguagem própria através da encenação de textos do autor. A adaptação da obra para o português ficou a cargo de Esteban Campanela, pesquisador e tradutor de Calderón no Brasil, que se uniu a Turnes para adequar a obra para a realidade brasileira. 

 

 

Na pequena cidade de UZ vive Grace, mulher religiosa e devotada ao lar, ao marido e à sua família exemplar. Um dia Grace ouve a voz de Deus,que lhe ordena matar um de seus filhos. Obcecada em cumprir a ordem divina, Grace instaura o caos na antes pacata cidadezinha. O marido transforma-se, o pastor revela-se e os vizinhos se desesperam diante da realidade que Grace os faz enxergar. 

 

Deus criou o mundo em sete dias. 

Quantos dias levará Grace para destruí-lo? 

O TEXTO

Os habitantes de UZ vivem em paz, guiados pelos ensinamentos da Igreja. Até que um dia, Grace, a mais virtuosa dentre as mulheres, escuta a voz de Deus. Ele ordena que ela mate um de seus filhos. Para cumprir sua sagrada missão ela não deixará pedra sobre pedra.

 

Este é o argumento de UZ, uma parábola tragicômica sobre as relações entre família, sociedade e religião. De tão crente, Greice, a mais perfeita dona-de-casa, não hesita em seguir as mais absurdas ordens de um Deus que não vê, mas “sente”. O marido Jack, fiel e amantíssimo, não se furta aos mais insólitos subterfúgios para permanecer ao lado de sua esposa. O filho militar Tomás, é perfeito e tem o pai como exemplo de virtude. A filha Dorotea (ou Doroty), se mantém isolada em um mundo próprio. A vizinha Leona, carola ensandecida, está sempre a par dos acontecimentos da pequena cidade, mais precisamente da casa de Greice. O pastor Maykol mantém os membros da igreja no caminho certo. O açougueiro José e sua filha Catherine são os cidadãos de bem que completam o rol dos cidadãos de UZ prestes a serem levados à histérica e delirante ruína moral.

 

Na obra de Calderón é constante a presença da família, ou de uma alegoria dela. Através da secular instituição familiar, religião, sexualidade e violência são temas constantemente abordados. Dessa vez a família desestruturada vem ambientada na vizinhança de uma cidade feita de aparências, dominada pela perfeição ilusória dos modelos familiares tradicionais. Os temas da opressão da mulher, dos modelos de bom comportamento, do amor à pátria e à família, corroboram uma crítica à influência da religião na política, à corrupção e à hipocrisia, temas bastante pertinentes para a sociedade brasileira dos dias de hoje, onde se vive as contradições entre avanços significativos nas questões dos direitos humanos e a reação violenta de influentes grupos conservadores.

A DIREÇÃO

 

A direção de Renato Turnes para a montagem brasielira de UZ procurou manter o ritmo alucinado das ações do texto de Calderón, ao mesmo tempo em que aprofundou as contradições dos personagens, oferecendo um fundo dramático que sustenta o jogo cômico. A crítica social feroz provém da exposição do patético e do grotesco das atitudes dos fanáticos. A partir da pesquisa inicial sobre os estados alterados dos corpos em situações de êxtase religioso, as cenas são construídas em tensão crescente, baseando o trabalho dos atores em duas qualidades complementares: acúmulo e variação. O objetivo é encaminhar personagens e público no labirinto de loucura e fanatismo que chega, na pequena cidade de UZ, às últimas consequências.

 

A opção por retratar a história a partir do ponto de vista da garota Doroty revelou o caráter épico da encenação, enfatizado nos letreiros projetados através dos quais a menina revive sua jornada sacrificial, em um ambiente ficcional que mistura a alegoria technicolor de O Mágico de OZ com a moralidade violenta de Dogville.

 

Os sons tecnológicos de Ledgroove criam uma trilha eletrônica ritualística. A cenografia de Sandro Clemes sintetiza o ambiente doméstico com recursos mínimos, enquanto a paleta sóbria do figurino de estilos diversos de Karin Serafin revela surpresas sutis (ou nem tanto) durante a encenação. A maquiagem de Robson Vieira completa a caracterização, ressaltando traços expressivos de cada ator em favor de seus personagens e estabelecendo uma certa unidade visual.

 

 

FICHA TÉCNICA

 

UZ

De Gabriel Calderón

Tradução:  Esteban Campanela 

 

Direção: Renato Turnes

 

Com: Alvaro Guarnieri, Lara Matos, Malcon Bauer, Milena Moraes, Rafael Orsi de Melo, Thaís Putti e WMarcão

 

Desenho de luz: Daniel Olivetto

Cenografia: Sandro Clemes

Figurino: Karin Serafin

Maquiagem: Robson Vieira

Trilha sonora: Ledgroove

Arte gráfica: Camila Petersen

Produção: Milena Moraes

Fotos: Cristiano Prim

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