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O Amigo do Meu Tio

Documentário, 8'

2021

O primeiro amor de Vicente documentado pela câmera VHS do seu pai.

Um filme de Renato Turnes e Vicente Concilio

Com Vicente Concilio

Direção e edição: Renato Turnes

Roteiro: Renato Turnes e Vicente Concilio

Fotografia: Luiz Pio Concilio

Trilha Sonora Original e Mixagem: Hedra Rockenbach

Edição de Som: Renato Turnes

Masterizações: Marko Martinz

Produção Executiva: Loli Menezes e Milena Moraes

Uma coprodução La Vaca e Vinil Filmes

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O Amigo do Meu Tio é selecionado para integrar coletânea internacional

Curta catarinense é uma coprodução da Cia La Vaca e Vinil Filmes e foi um dos 10 selecionados

para integrar a "Boys on Film 23: Dangerous To Know"

"O Amigo do Meu Tio", curta catarinense coproduzido por Cia La Vaca e a Vinil Filmes de Florianópolis, foi selecionado  integrar a coletânea europeia "Boys on Film 23: Dangerous To Know", da Peccadillo Pictures, lançada em julho de 2023.

O curta, que já foi premiado com o Prêmio Canal Brasil de Curtas e passou a integrar a programação do canal, é o único filme da América Latina selecionado para a edição 2023 da coletânea europeia, que ainda inclui filmes na Bélgica, Estados Unidos, Hungria, Geórgia, Israel, Noruega e Reino Unido.

"Boys on Film 23: Dangerous To Know" tem aproximadamente 160 minutos e estará disponível em DVD, Blu-ray e ainda no Prime Video, BFI Player e Peccadillo On Demand.

Vicente Concilio, roteiro e performance

 

“O Amigo do Meu Tio" nasceu de um texto escrito por mim na oficina "Como eliminar Monstros", conduzida pelo Ronaldo Serruya e Fabiano de Freitas. Lá, abordando o impacto do hiv/aids na arte e cultura brasileiras, eu não tinha como não lembrar da minha própria história: a epidemia era pauta fortíssima justamente no momento em que eu entrava na adolescência e a ênfase dos discursos nos "grupos de risco", sempre lembrando que gays eram mais vulneráveis, imprimia certo terror para a minha geração.

 

Aí eu lembrei da história do Chulé. De todos os amigos do meu tio, era ele quem eu desejava. Chulé era um homem hétero, e naquele momento em que não havia tratamento para a doença, ele foi a única pessoa próxima que morreu como consequência do vírus, alguns anos depois das imagens que estão gravadas.

 

Naquela época eu já sabia que não podia mostrar de verdade quem eu era, e parte da angústia que eu sentia era de estar aparentando demais.

 

Foi justamente no meio disso tudo que surgiu a câmera VHS do meu pai. Ela registrava tudo, em imagens que a gente podia ver e rever. Ficava gravado para sempre o meu próprio fracasso em tentar ter um comportamento normativo.

Quando eu escrevi aquele texto, eu não lembrava que as imagens daqueles dias na casa da praia estavam gravadas. No momento em que eu assisti às imagens revivi a câmera sempre com meu pai, registrando aquilo que era valorizado: os homens sendo "servidos", a zoeira, a confraternização, a comilança, a malandragem...e o quanto tudo aquilo me assustava, porque eu não conseguia ser aquilo. Revivi também meu fascínio pelo Chulé.

Quando retrabalhamos o texto original a partir dos arquivos e o filme foi surgindo, ficou evidente que aquilo evocava muito mais que a minha própria experiência. Desvelava-se ali uma certa ancestralidade, cenas que evocavam experiências vividas por muitos homens e mulheres cujo comportamento quando crianças não se adequava ao que era esperado pelo seu gênero.

Aí o filme fez todo sentido, porque mais que um exercício autobiográfico, ele é um processo de conexão com quem também viveu essas mesmas opressões – em um país que não nos deixa esquecer o quanto é um risco de vida lutar para ser quem se é.

Renato Turnes, Direção e Edição

 

O Amigo do Meu Tio é um documentário que criamos em 2021, no momento mais isolado da pandemia do covid 19.

 

Escolhemos nos concentrar nas possibilidades de sentido do arquivo pessoal, performado pela voz do protagonista adulto. O diálogo entre essa voz e os documentos em vídeo reorganiza o arquivo de memórias, ocupando com liberdade espaços de lembrança e esquecimento e compondo uma narrativa audiovisual entre o depoimento e a auto-ficção.

O pai é a voz de homem que controla o que deve ser documentado. As imagens VHS da família, que ele produz entre 1986 e 1993, imprimem seu olhar sobre a passagem do tempo nos corpos que ele enquadrou. Assim, vemos o corpo-criança de Vicente mudando até enfrentar as questões de performatividade que o corpo-homem impõe enquanto a cachorra Dolly amadurece velozmente, nos lembrando que o tempo é o objeto.

 

Esse sistema de registro da infância, definido pelo olhar do pai, é hackeado pela forma como o filho escolheu lembrar .

 

O filme é um movimento performativo sobre o documento autobiográfico, que revela uma narrativa pessoal legítima, até então silenciada.

 

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