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Homens Pink é um espetáculo documental criado a partir dos depoimentos de um grupo de senhores gays.

Infâncias fora da norma, juventudes  à sombra do regime militar, o fervo como resistência, a devastação da AIDS, a passagem do tempo sob o ponto de vista dos sobreviventes. 

Memórias ameaçadas de apagamento registradas em documentos, objetos, fotos e vídeos de acervos particulares, que misturam-se à lembranças pessoais do ator e compõem um espetáculo que celebra a experiência dos pioneiros e o orgulho das ancestralidades dissidentes.

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Homens Pink é um projeto de teatro e filme documentários que trata da memória da comunidade LGBTI+ brasileira através de um recorte centrado nas experiências de um grupo de homens gays 65+.

O processo teve início em 2018, quando o projeto foi contemplado com o Rumos Itaú Cultural 2017/2018, que viabilizou a pesquisa e a filmagem das entrevistas com os 9 senhores que compartilharam memórias e arquivos pessoais com o artista Renato Turnes. As entrevistas foram realizadas em Florianópolis e em São Paulo, durante o ano de 2019.

O filme foi lançado em 2020, acumulando em sua trajetória participações e premiações em importantes festivais nacionais e internacionais de cinema.

O espetáculo estreou em 2022, após o fim das restrições sanitárias da epidemia da Covid-19 e, desde então, vem realizando temporadas constantes em Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro, além de apresentações em diversos eventos e festivais brasileiros de teatro.

Sobre o processo de Homens Pink Renato Turnes A ideia de Homens Pink surgiu de uma inquietação muito pessoal. Quando passei dos 40 anos comecei a viver aquele processo natural de pensar sobre o envelhecimento, sobre as possíveis repercussões da chegada da idade nos campos da vida social, afetiva, sexual, profissional, da saúde da cabeça e do corpo. Essa prospecção não vinha sem uma certa angústia, porque somos condicionados a ligar as velhices, e especialmente as velhices viadas, a uma série de imagens recorrentes, que associam esse período da vida à solidão, incapacidade, invisibilidade, inutilidade, anacronismo, feiúra, pobreza, doença e morte. O curioso é que eu tomei um caminho inverso e comecei a voltar às lembranças do passado, da minha adolescência como um menino gay, procurando reencontrar na minha memória os homens que eram maduros naquela fase e que hoje seriam bichas idosas. Acho que eu queria estabelecer algum diálogo, mesmo a distância. Construir alguma forma de espelhamento com o passado que me ajudasse a entender aquelas aflições de futuro que eu sentia. Não encontrei ninguém. Aqueles homens que eram referência de futuro quando eu era uma bicha novinha, que eu admirava, de quem eu queria desesperadamente ser amigo, que eram lindos e livres, que usavam as roupas mais descoladas, que escutavam as músicas mais modernas, que dominavam terrritórios e formas de pegação, que tinham suas vidas e seus trabalhos e que eram, para o meu imaginário juvenil, uma prova de que poderia dar certo crescer sendo gay, desapareceram do meu campo de visão. Saí perguntando por eles para as outras bichas da minha geração. Soube que alguns se afastaram, se recolheram para envelhecer em paz longe dos olhares impiedosos da própria comunidade. Como você sabe, nossa comunidade é etarista, ainda muito apegada aos cânones estéticos (e culturais, sexuais e políticos) da juventude, pouco reverente, ignorante de sua própria história e bastante cruel e impaciente com a bicha velha. Mas descobri que a grande maioria estava mesmo era morta. Todas vitimadas pela catástrofe da epidemia da AIDS. Invisíveis ou defuntas, comecei a ser assombrado pelos fantasmas das minhas bichas ancestrais. Naquele momento muitas outras perguntas foram surgindo. Como era ser viado muito antes de mim? O que existia antes da AIDS? O que sobrou depois? Porque os sobreviventes são invisíveis? Como uma bicha envelhece? Quem cavou esse abismo geracional no centro da nossa comunidade? O que nos afasta e o que nos pertence? Podemos celebrar uma ancestralidade bicha? Como dar voz a essas memórias ameaçadas de apagamento? Então tentei elaborar essas questões na forma de um projeto que unia os meus principais interesses naquele momento e as minhas experiências no campo da pesquisa documental, do filme e do teatro documentário. A base do projeto é a história oral, na coleta de narrativas através de entrevistas e no contato com os acervos pessoais, fotos, vídeos e objetos de 09 senhores gays entrevistados. Desses procedimentos resultaram duas obras de linguagens distintas, que obviamente dialogam mas são também independentes entre si: o filme documentário e o meu espetáculo solo, ambos chamados Homens Pink. Eu penso que a epidemia da AIDS aprofundou o abismo geracional e consequentemente potencializou todos os estigmas ligados à velhice no imaginário da comunidade. A devastação da epidemia é difícil de ser compreendida pelas gerações posteriores, mesmo com a tragédia recente da pandemia de Covid-19. Isso porque a AIDS, por ter sido habilmente identificada pela sociedade normativa como peste gay, gestou o estigma e uma série de imagens de controle que durante décadas moldaram a forma como essa sociedade via as dissidências sexuais e de gênero e, claro, como nós acabamos vendo a nós próprios. A AIDS dizimou grande parcela da população gay adulta. As gerações posteriores não tiveram a possibilidade de ouvi-los, não puderam aprender com eles os códigos de sobrevivência produzidos durante décadas de marginalidade, conheceram pouco de suas lutas e de seus fervos. As bichas da minha geração foram crescendo trabalhadas no medo da morte mais horrível e foram aprendendo sozinhas como ocupar um lugar no mundo apesar do terror. As narrativas produzidas pela cultura de massa fortaleciam essas imagens de controle, trágicas, moribundas, culpadas, vergonhosas. Eu lembro de campanhas de prevenção absolutamente medonhas. Eu sou da geração que viu Philadelphia como quem assiste a uma aula sobre o próprio futuro. Eu lembro de existir num certo estado de pânico. As gerações posteriores à minha, já habitando um mundo com coquetel e Prep, até bem pouco tempo desconheciam totalmente sua própria história e que teve muita luta antes da militância de twitter. Acho que é a própria cultura popular que está se encarregando de reparar esses vazios e propor uma ideia de pertencimento histórico. É nítido para mim que peças de cultura pop, como Rupaul's Drag Race, seriados como Pose e muitos outros, livros, filmes e espetáculos, concebidos e produzidos por gente dissidente, têm tido um papel fundamental nessa retomada de uma ancestralidade viada possível. Além de contar nossas histórias, apresentam também um jeito novo de fazê-lo, desconstruindo imagens de controle, colocando o orgulho como centro da abordagem, celebrando as potências dos corpos dissidentes ao invés do efeito fácil e recorrente da necroestética. Acho que Homens Pink se encaixa nesse tipo de obra contemporânea sobre a comunidade e nesse sentido a opção pelo teatro documentário guarda uma função de colaborar num processo de reparação histórica. Sob o ponto de vista estético, acredito que o caráter documental do processo se torna relevante porque faz do espetáculo um documento performativo. No momento em que performo, também construo documentação. Em Homens Pink isso acontece através das opções da dramaturgia que eu criei para um corpo-arquivo, que hackeia o documento, atribui sentido, desloca percepções, ativa alegorias, insere sua própria experiência no jogo, invoca de forma autônoma as narrativas que lhe foram cedidas, que ele preserva em si e que manipula, no momento do ato performativo, no sentido de compartilhar. Penso assim com o objetivo de atingir uma espécie de presença coral, encarando a performance documental como um instrumento de amplificação de muitas outras vozes. Eu acredito que o teatro documentário não deve ter uma função exclusivamente preservacionista. Existe, claro, algo de “resgate", mas o principal é construir linguagem. Eu digo no texto: o teatro é o lugar de não esquecer. Essa relação entre teatro, memória e esquecimento me interessa porque penso que existe a lembrança mas também imensos vazios da memória, que são espaços ideais para serem invadidos e habitados pela minha presença. Não é sobre recontar pela milésima vez a história que me contaram, mas é sobre criar uma coisa nova toda noite. Para mim o jogo consiste em atualizar fantasmas, torná-los presentes, materializá-los, fazer reacontecer através dos dispositivos da performance. Tem um aspecto meio ritual na encenação, tem uma fantasmagoria nessas memórias sendo corporificadas. Tem uma parte inicial do texto que eu chamo de Invocação e que acaba assim: Umas bichas vivas. Outras bichas mortas. As vivas falam. As mortas também.

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Curadorias

Arquivos para download

Solicite o vídeo do espetáculo na íntegra através do email cialavaca@gmail.com

Trajetória

Novembro 2024 - Circulação Rio de Janeiro, Sesc Pulsar:  Niterói, Madureira, São João do Meriti e  São Gonçalo

Maio 2024 - Festival Nacional de Teatro Revirado, Criciúma/SC

Março 2024 - Maratona Cultural de Florianópolis/SC

Agosto 2023 - Circuito TUSP de Teatro: Bauru e Ribeirãso Preto/SP

Março-Abril 2023 - Temporada no Sesc Copacabana, Sesc Pulsar, Rio de Janeiro/RJ

Fevereiro 2023 - Cena_Doc - Teatro Sesc Prainha, Florianópolis/SC

 

Dezembro 2022 - Conexões Contemporâneas, Itajaí/SC

Dezembro 2022 - São Paulo em Cena 2022 - Teatro Alfredo Mesquita,

São Paulo/SP

Novembro 2022 - Festival Nacional de Teatro de Presidente Prudente, Presidente Prudente/SP

Outubro 2022 - ATO 2022 - Instituto Ling, Porto Alegre/RS

Outubro 2022 - GenerosidadeS - Sesc Santo Amaro, São Paulo/SP

Julho 2022 - Festival Brasileiro de Teatro Toni Cunha, Itajaí/SC

Junho 2022 - Sesc Prainha, Florianópolis/SC

Abril-Maio 2022 - Temporada no Sesc Belenzinho, São Paulo/SP

 

Março 2022 - Temporada de estreia no Teatro Sesc Prainha, Florianópolis/SC

FICHA TÉCNICA:

Direção artística, texto e performance: Renato Turnes. 

Assistência de criação: Karin Serafin. 

Iluminação e projeções: Hedra Rockenbach. 

Edição de vídeos: Marco Martins. 

Imagens VHS: Carlos Eduardo Valente e Dominique Fretin. 

Figurinos e máscara: Karin Serafin. 

Trilha sonora original: Hedra Rockenbach. 

Arte gráfica: Daniel Olivetto. ​Fotos: Cristiano Prim. 

Produção: Milena Moraes.

 

Realização: La Vaca Companhia de Artes Cênicas.

 

Artistas provocadores: Anderson do Carmo, Vicente Concilio,

Fabio Hostert e Max Reinert.

A partir das memórias de: Carlos Eduardo Valente, Celso Curi,

José Ronaldo, Julio Rosa, Eduardo Fraga, Luis Baron, Tony Alano,

Paulinho Gouvêa, Wladimir Soares.

 

Acervos pessoais gentilmente cedidos pelos entrevistados.

 

Apoio: Rumos Itaú Cultural e Sesc.

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